Mais um texto retirado das páginas da imprensa anarquista brasileira. Desta vez as palavras são de Liev Tolstoi, que ficou conhecido pelos seus escritos literários, destacando "Guerra e Paz", e entre os anarquistas foi denominado como anarquista cristão. Visando trazer textos que estão próximos de nossas propostas, objetivamos aqui também apresentar um texto de militância de Tolstoi, ou seja, escritos além de sua escrita literária, é como estamos em época de eleições por que não tratar deste tema? Boa Leitura!
Governos e Bandidos
Acontece
com os governos o mesmo que com as quadrilhas de bandoleiros: a
diferença é que os bandoleiros atacam especialmente os ricos,
enquanto os governos abusam, sobretudo, dos pobres e protegem os
ricos que os ajudam a praticar os seus crimes.
O
bandido da Calábria que impõe um tributo aos que querem livrar-se
dos seus assaltos, ao menos arrisca a vida. Os governos não arriscam
nada e tudo põem em execução com a mentira permanente e o engano
diário. O bandido não forma a sua quadrilha violentamente; mas os
governos recrutam os seus exércitos à viva força.
Para
o bandido, todos que lhe pagam um tributo desfrutam das mesmas
garantias de segurança, para o Estado, os que se aproveitam da força
e ajudam o engano,não só se tornam mais protegidos, mas até
recompensados, os mais garantidos, uma guarda constante os rodeiam:
são os imperadores, os reis, os presidentes, cada um dos quais
recebe a maior parte das riquezas que se repartem, arrancadas ao
contribuinte, logo, segundo a maior ou menor participação que
tenham nos crimes do governo, são garantidos e recompensados os
generais, ministros, governadores e assim sucessivamente até os mais
modestos policiais. Os menos garantidos são os que recebem menores
ordenados.
Os
que permanecem alheios as manobras governamentais, os que se negam ao
pagamento dos impostos ou ao serviço militar são severamente
castigados, o mesmo fazem os bandidos.
O
bandido não perverte premeditadamente as suas vítimas, mas os
governos para conseguirem os seus propósitos, entregam à depravação
gerações inteiras de crianças e adultos, ensinando-lhes doutrinas
mentirosas de religião e patriotismo.
Os
mais cruéis dos bandidos – Stenka, Racine, Cartouche, Mandrin –
pela sua crueldade implacável e refinada, sem recordar aqui os
tiranos célebres como Ivan, o Terrível, Luis XI, Izabel, etc...,
não podem comparar-se aos governos contemporâneos, constitucionais
e liberais, com as suas prisões celulares, os seus batalhões
disciplinados, as suas carnificinas, as quais dão o nome de guerras.
Os
governos, como as igrejas não devem ser tratados senão com
veneração ou com desprezo.
O
tempo da veneração vai passando para os governos, apesar de toda
hipocrisia que empregam para conservar o seu prestígio.
A
hora chega e os homens compreenderão finalmente que os governos são
instituições mais que inúteis, daninhas e imorais, as quais
nenhuma pessoa honrada deve prestar o seu concurso, nem aceitar os
seus favores.
Por Liev
Tolstói, retirado do periódico anarquista ‘A Terra
Livre’ (São Paulo), 1º de Maio de 1906, número 8,
página 3, & também do semanário anarquista, ‘A
Vanguarda’ (São Paulo), 23 de Junho de 1921, número 45,
página 4.