O Núcleo de Estudos Libertários Carlo Aldegheri retorna com novidades em nosso Blog, em sua primeira publicação de 2013.
Voltamos ao trabalho de resgatar artigos históricos da imprensa anarquista brasileira e, desta vez, fizemos um levantamento de três textos, de épocas diferentes, escritos por militantes distintas/os, que abordam a questão da participação feminina nos meios anarquistas, assim como seus pontos de vista. Todos esses escritos, à sua maneira, abordam questões históricas e ideológicas de extrema importância em nosso entendimento.
O movimento anarquista começa a se organizar em São Paulo , a partir da publicação do periódico anarquista Gli Schiavi Bianchi em 1892.
O nosso primeiro texto foi escrito por volta de três anos após o surgimento do primeiro periódico anarquista paulista. Ele data de 1895 e foi publicado originalmente no periódico anarquista L’Avvenire, também em São Paulo.
Notadamente escrito por um militante anônimo e intitulado de “A Mulher e a Anarquia”, ele trata da (pouca) participação feminina nos meios anarquistas da época.
Algumas passagens chamam a atenção no texto: o autor, há 118 anos atrás, já reconhece a dupla jornada feminina na sociedade, ao trabalhar para sustentar a família e ao mesmo tempo realizar os afazares domésticos (reforçando que eles não são menos penáveis que o primeiro), destacando que a mulher suporta a parte mais pesada dos encargos sociais. No artigo, o autor conclui que a educação retrógrada que era oferecida à mulher, assim como as condições sociais e econômicas da época, eram os principais obstáculos para sua participação nos meios libertários. O autor incentiva uma maior participação feminina na luta anarquista, dizendo que quando isso acontece “(ela) ergue-se na primeira fila mais enérgica ainda que o homem”. Um texto bastante significativo sobre o assunto, que deve ser lido levando em consideração a cultura e o contexto social da época.
O segundo artigo foi publicado no periódico sindicalista libertário A Tribuna Operária (nome em protesto ao diário comercial A Tribuna), na cidade de Santos, conhecida na época como a Barcelona Brasileira, devida a intensa influência anarquista nas associações operárias dessa época. Escrito por uma militante chamada Iris, o texto trata da importante questão da organização dos trabalhadores, ressaltando que essa é a maneira mais eficaz para enfrentar problemas como as longas jornadas de trabalho, os baixos salários, a competição no mercado de trabalho, o desemprego, a miséria, a ignorância, entre outros males próprios do sistema capitalista.
O terceiro escrito foi publicado na primeira fase do periódico anarquista Ação Direta, no Rio de Janeiro, em 1929. A autora, Ida Fontes, durante o decorrer de todo o texto demonstra um profundo e impressionante conhecimento da ideologia anarquista, que pode levar muitas pessoas nos dias de hoje à rever certos conceitos. Comparando o individualismo anarquista com o coletivismo anarquista, um tema polêmico inclusive para os dias de hoje, Ida Fontes chega à conclusões que certamente surpreenderão muitas pessoas.
Desejamos uma boa leitura à todos/as companheiros/as, contamos que as pessoas façam comentários sobre os textos para contribuir no debate (consideramos que essa é a parte mais importante no resgate desses escritos históricos) e, informamos, que em breve vamos publicar outros textos da imprensa anarquista brasileira.
Avante com o livre debate sobre a ideologia anarquista !!!
“A Mulher e a Anarquia”
Na sociedade atual a mulher suporta a parte mais pesada dos encargos sociais.
Enquanto o homem luta e pena a fim de trazer para casa o necessário, à mulher incumbe todo o fardo dos trabalhos domésticos – que não são os menos penáveis – a isso se juntam todas as funções da maternidade e a responsabilidade de resolver um problema, as mais das vezes inextricável, gastar sem pedir fiado ou emprestado. E ainda acresce quando o salário do homem é insignificante, a necessidade de deixar o lar e procurar fora um trabalho mais ou menos remunerador.
Neste viver pungente e opressivo, um certo fanatismo se apodera dela e lhe faz aceitar com resignação a sua sorte; e se por vezes a revolta lhe sobe ao cérebro, este mercê de uma longa inação não resiste ao choque e a razão hesitante é inapta para seguir a reta linha da lógica.
Algumas vezes, contudo, heróica e sublime na sua revolta, exalta-se a sua cólera, com todos os sofrimentos, com todas as duras privações deste tanto tempo passadas, e vemo-la então erguer-se na primeira fila mais enérgica ainda que o homem.
Mas, geralmente, um grande desânimo a invade ao pensar no gigantesco esforço que é preciso tentar para demolir o edifico, cuja massa enorme a esmaga.
A essa que sabe quanto o governo da casa é dificultoso, horrorizá-la a expectativa de uma luta, cujo termo acha incerto e que, qualquer que seja o resultado, lhe parece dever agravar a sua miséria.
A sua visão, menos larga que a do homem, é de caráter imediato. Se o combate de amanhã lhe dá de causar a falta de pão em casa que lhe importa a abundância entrevista para depois de amanhã ?
O homem tem, pois, de atuar sozinho, sem o benéfico apoio, nas horas de fraqueza, de uma coragem igual no coração da sua companheira. Ainda mais, nesses momentos tem de lutar duplamente, contra si e contra a deprimente influência da sua querida amiga !
Ah, se soubesses, mulheres, que dor é a nossa quando após alguns anos e esforços para elevar a nossa alma à altura do nosso ideal, logo um nada, uma palavra destrói todo esse trabalho penosamente realizado e nos faz constatar a inanidade das nossas esperanças !
Porque é assim que amamos nós, os anarquistas.
É um despedaçar do coração para nós, ver-vos tão distantes e sentirmo-nos dissuadidos, pelo fato da vossa educação retrógrada, da ideal felicidade de uma confiança recíproca e de um comércio paralelo de idéias e de sentimentos.
Porque, na luta sem quartel, necessária para a realização da nossa comum felicidade, há de ser preciso empregar parte das nossas forças em trazer-vos a reboque e em vencer a vossa obstinação de ficar para trás ? É a política que vos aborrece ?
Mas não se trata de política; não se trata de modificar a forma do governo, de colocar este ou aquele no poder !
O nosso objetivo é mais vasto. O que nós pretendemos é a nossa felicidade, a vossa e a demolição de um edifício de preconceitos, de mentiras convencionais, de desigualdades flagrantes, de uma organização despótica e injusta que sobre vos pesa ainda mais que sobre nós e vos avilta, é a destruição da mentira que impera no lugar da verdade, é o desaparecimento desta vergonha – a prostituição, é o desenvolvimento do indivíduo na livre natureza pelo prazer de viver e de amar, é o advento da harmonia e do amor, sustentadas pela liberdade e pela confiança mútua.
E então, altiva e livre, igual ao homem, não já fêmea, mas mulher, tu serás, em toda a beleza da palavra – a sua companheira !
Queres isto ? Pois bem; sê conosco.
Retirado do periódico anarquista “L’Avvenire” (São Paulo), 24 de Fevereiro de 1895, número 8, página 2.
O braço trabalhador diariamente está sendo eliminado, a ciência todos os dias apresenta novos processos sempre tendentes a proporcionar aos povos o modo mais fácil e menos fatigoso de obter o necessário para o próprio sustento. Acontece, porém, que esses melhoramentos longe de vir beneficiar o povo, vem cada vez mais atirá-lo para a miséria.
O capital é quem deles se utiliza para realizar as suas especulações, promovendo a concorrência de braços que grandes e proveitosos lucros lhe traz, pois os trabalhadores reduzidos quase ao nada, sujeitam-se a todas as condições de trabalho mal remunerado e prolongado, vexames e insultos, tudo, enfim, suportam e aceitam, pois não querem morrer de fome; a desocupação e a falta de trabalho é triste, pois, traz como consequência a falta de pão para alimentar seus pequeninos filhos, a falta de teto onde abrigar a família, cuja, existência é cheia de privações de penas.
A grande maioria dos trabalhadores assistem com indiferença e impassibilidade a todo esse contínuo crescer da própria miséria, sem observar que esta todos os dias se acentua, e essa impassibilidade terá consequências bem funestas.
A continuar assim não tardará o dia em que a família trabalhadora reduzida a condição de besta de carga, nem sequer o direito de trabalhar terá, e por consequência tampouco o direito à vida.
Parecerão exagerados esses conceitos, mas assim não é, o regime capitalista dispõe de grandes elementos, que os trabalhadores cegos e ignorantes lhe entregaram sem perceber que estão entregando o punhal para as mãos do próprio algoz, para que o assassinem!!!
Ele criou uma infinidade de instituições e todos os dias inventa outras.
E os trabalhadores, ingênuos, inexperientes e tolos, para elas concorrem, dando-lhe vida, não percebendo que elas representam um instrumento de opressão nas mãos do capitalista. Um escritor já o disse, a exploração do capitalista está baseada na ignorância do proletariado, e é bem verdade; é na cegueira e no negro obscurantismo que impera entre os trabalhadores, que o abutre capitalista assenta o pedestal, e ele está convencido de que, enquanto os trabalhadores forem ignorantes, despreocupadamente poderá continuar no conforto e no bem estar, manda semear essa ignorância a mão cheia pelas instituições, tarefa essa que se torna muito fácil, pois têm sempre boa aceitação por parte dos trabalhadores.
Há um meio, há uma arma poderosa que esse triste futuro não se realize: meio e essa arma é a organização. Os trabalhadores organizando-se, reunindo as próprias forças podem se opor a todas as injustiças que contra eles se cometem: organizando-se, poderá ir obtendo todas as melhoras que as suas condições de vida exijam, como seja: aumento de salário e redução das horas de trabalho, que é incontestavelmente a conquista mais lógica que o proletariado possa fazer, pois ela, além de vir eliminar a concorrência de braços, assegura também uma vida mais humana pelo trabalho prolongado.
Organizando-se, enfim, os trabalhadores terão os mais benéficos e proveitosos resultados, pois no seio da organização se adquirem energia e altivez, e espírito da luta e da solidariedade, todas as boas qualidades, enfim, do homem perfeito consciente e preparado a lutar, para saber viver numa sociedade.
É necessário, pois, fazer tudo para a organização; é preciso difundir a sua necessidade, fazendo vibrar na alma do operariado cego, passivo e resignado o instinto associativo.
Não esmoreçamos neste sentido, todos nós que temos esses conhecimentos; dediquemo-nos a essa obra com constância e tenacidade, pois só assim não se apresentará um porvir para o proletariado, mas, ao contrario, um porvir de luz, de bem e de amor.
“O Que É Preciso Dizer”
É preciso muita má vontade para afirmar que os anarquistas individualistas desejam ver os sindicatos fechados, os operários desorganizados, desunidos, entregues ao despotismo da burguesia. E digo que é preciso má vontade, porque não há ninguém que não reconheça o valor da solidariedade humana, a qual, sendo uma necessidade social, é também uma necessidade moral e satisfazendo-a o homem atende ao natural desejo de ser útil aos seus semelhantes, de prestar-se para alguma coisa.
Que os trabalhadores se unam e procurem com isso lutar contra a prepotência do patronato e coisa cuja conveniência ninguém discute. E nunca o individualista foi adverso a esse sistema de luta, como se pretende. Contra o que se insurge, o que procura defender-se, é contra a absorção da sua personalidade pelo ambiente trabalhista.
Às vezes, os interesses da coletividade vão de encontro as convicções ideológicas do indivíduo. Colocado nesta conjuntura, o individualista sacrificará, sem hesitar esses interesses, conservará imaculada a integridade dos seus princípios, o coletivista pelo contrário, porá os interesses da coletividade, acima dos seus ideais. Este um dos pontos principais, o mais característico talvez, em que assenta a diferenciação de ambas tendências.
Aqueles que afirmam que o sindicalismo não tem a faculdade de absorver elementos nossos em detrimentos dos ideais, deveriam considerar melhor, os fatos de todos os dias. Quando no cérebro do anarquista se forma a idéia fixa de arregimentar massas, quando sente a necessidade de reunir um grande número de trabalhadores, a preocupação de conseguir adeptos o torna cego a tudo o mais. Ele vai pouco a pouco, insensivelmente, cedendo parte das suas convicções e da sua firmeza de propagandista ácrata. Primeiro, é para atrair associados para a organização desejada, depois para conservá-los, mais tarde para não os desgostar, e afinal, a coletividade inconsciente anula a unidade consciente, domina-a, deixando-a reduzida a uma condição deplorável.
Poderíamos citar inúmeros casos de anarquistas ou coisa que o valha, que tem impedido por toda forma a propaganda anarquista dentro do seu sindicato, por julgarem que este ficaria prejudicado com isso.
Estas coisas e outras semelhantes, fazem-nas aqueles que se deixam empolgar pela teoria que concede valor máximo ao número.
E os que não pensam como eles, os que pretendem que o ideal seja colocado acima de tudo, os que querem os sindicatos como escolas onde os trabalhadores adquiram noções que os tornem homens de proveito, conscientes do próprio valor e dignidade, e não como túmulos de idealismos nos que se enterrem vontades e caracteres, a esses se lhes move uma guerra absurda e se os combate sem lhes estudar os propósitos.
Já tive ocasião de me referir a diferença que existe, na prática, entre as duas correntes em evidencia, reduzindo a questão a uma simples operação aritmética.
Dizem os coletivistas: “a vários zeros reunidos basta pôr uma unidade a esquerda, isto é, a frente, para obter um milhão”. Dizem então os individualistas: “de acordo; mas no dia em que essa unidade faltar, o milhão tornará zero, até que entenda de aparecer outra unidade. E de acordo com o que essa unidade quiser o milhão se movimentará para um lado ou para outro, para a boa obra ou para a deletéria, tanto faz.”
Pensamos então: se em vez de um aglomerado de zeros, tivéssemos um conjunto de unidades o produto total aumentaria consideravelmente, teríamos no caso 1.111.111. E aqueles que teimam em ligar importância capital ao número aceitariam a evidencia de um lucro de 111.111 que não é quantia para desprezar.
Mas não é isso o mais importante: o que importa saber é que no dia em que faltasse uma dessas unidades, o conjunto diminuiria, mas não deixava de existir. E mais ainda: que sendo 1.111.111 de cérebros a pensar em vez de um único, e havendo outras tantas vontades conscientes em ação em vez de um só, a obra conjunta deveria ser, forçosamente superior.
Essa preocupação em desejar uma multidão anônima para dirigir, uma grande massa, sem vontade própria para orientar, é, perdoem-me a franqueza, uma reminiscência do espírito autoritário que herdamos dos nossos avôs, os conquistadores; é o ditador que dormita em nosso subconsciente e que despertará ao primeiro toque de rebate.
Nem sempre nos apercebemos desta verdade e atravessamos a vida a embalar em nosso seio uma víbora que morderá a consciência ao primeiro descuido, tornando-nos inimigos dos nossos semelhantes, perpetuadores de um estado de coisas que deve ser destruído.
Não vale o argumento que já me foi apresentado, de que o sindicato “reprodução da humanidade em ponto pequeno” é uma orquestra, na qual cada músico tem a sua parte, mas a que é indispensável, o mestre para dirigir a harmonia do conjunto.
A orquestra valerá sempre pelo valor individual de cada músico e se estes forem detestáveis o maestro não conseguirá nunca obter a harmonia desejável.
O maestro, a meu ver, é uma entidade de valor, sim, mas de valor igual ao de cada músico. O seu papel de harmonizar não pode de maneira nenhuma, ser considerado superior ao de interpretar. Mesmo porque, sem maestros e ainda sem orquestra, a Música não deixaria de existir. É até nas interpretações individuais que o espírito sente se arrebatar em elevados transportes, mergulhando no resplendor da verdadeira Arte.
Porque não dar a cada coisa e cada ser o seu justo valor? Porque elevar alguns aos píncaros de uma exaltação perigosa, e reduzir os mais a uma anulação deprimente?
Porque ao faltar o maestro, a orquestra deverá dissolver-se e cada músico arrumar para o canto o seu instrumento? Porque não poderá cada músico ser capaz de tornar-se um maestro quando a ocasião o reclamar?
É isto que se pretende e que a cegueira de adversários que nos combatem sem querer deter-se ante os nossos propósitos, não deixa compreender, que cada individuo trabalhe com afã educando a sua mentalidade e a sua vontade para fazer de sua pessoa uma unidade consciente uma individualidade de valor. É que, dentro ou fora do sindicato, aonde quer que se encontre, mantenha de pé essa individualidade, a independência de caráter, a sua vontade regida apenas pelo raciocínio. Ninguém poderá contestar que uma coletividade composta de indivíduos desse proceder, seria uma coletividade superior.
Podemos citar fatos concretos: enquanto certos sindicatos formados por uma multidão amorfa de seres sem vontade própria e que não sabem o que tem a fazer porque não sabem o querem, aparecem e desaparecem como meteoros, dando luz fugaz e nem sempre brilhante e tantos outros que mudam de cor, de orientação, ao primeiro revés, nós vemos que naquelas agremiações aonde os associados são pessoas que aprenderam a pensar e agir por conta própria, aonde cada membro é uma vontade em vibração, acontece justamente o contrário. A União dos Operários em Construção Civil, por exemplo, vem mantendo através de vários anos uma norma de conduta que prova quanto diferem os conjuntos de homens mais ou menos conhecedores do que desejam, do que querem, dos que são formados apenas por um aglomerado de inconscientes sem personalidade.
Essa união tem resistido aos maiores embates da reação, tem visto os seus mais ativos militantes deportados, perseguidos, assassinados até. E os claros deixados por esses militantes tem sido preenchidos imediatamente, a entidade social tem continuado sempre a manter a atitude serena e firme de quem sabe para onde vai e que nada a fará desviar do caminho traçado.
Nós a temos visto ressurgir após as represálias, reduzida, com um número pequeno de sócios, mas sempre com relativa facilidade, certa do próprio valor e sempre moralmente forte. Por quê? Já o disse: porque os seus associados são em sua maioria indivíduos que não mantém, dentro da associação a mentalidade de ovelhas de rebanho a espera de um pastor que as dirija. Cada qual por si mesmo procura criar um “eu” muito seu, independente, que agirá dentro ou fora da organização operária, conforme as necessidades da luta, mas obedecendo sempre as concepções próprias, sempre manifestando o valor da própria personalidade.
E, felizmente, não é essa União a única associação operária que assim procede. Há mais algumas ainda, para gáudio dos que sonham com a verdadeira emancipação dos trabalhadores.
Que os políticos e demais pescadores de águas turvas, considerem o valor das agremiações operárias pelo número de sócios, e o valor da mentalidade obreira pelo número de agremiações, sejam elas quais foram, explica-se. Mas que os anarquistas pensem da mesma forma, não se explica muito.
Para o anarquista, o sindicato poderá ser um meio de luta, mas não é o único meio, nem este o deve absorver.
Quando a ação dos anarquistas nos sindicatos não se possa fazer sentir na propagação dos seus ideais, única mira que os pode ai levar, é razoável que eles se afastem e vão procurar outro campo apropriado.
Sindicalismo e anarquismo podem andar unidos e assim deveriam andar sempre, para bem dos trabalhadores. Mas é preciso reconhecer que não são a mesma coisa. E quando o anarquista tiver que optar por um deles, seria lógico que optasse pelo anarquismo, não lhes parece?
Reunião de valores? Solidariedade entre pessoas afins para a conquista de um ideal comum? De pleno acordo. Mas arregimentação de massas inconscientes, formação de pobres rebanhos que não pensam nem sentem senão através de um pastor, seja este embora o mais bem intencionado dos anarquistas, não, tenham paciência, isso não é obra anárquica!
Por Ida Fontes, retirado do periódico anarquista “Ação Direta” (Rio de Janeiro), 10 de Janeiro de 1929, número 3, página 2.